
Retratos da História Riopardense
Esse site, como vocês podem perceber, é sobre fotografia. É um espaço bem pessoal, onde compartilho alguns dos meus registros. O que muitos não sabem é que também faço Licenciatura em História. Para mim, a fotografia e a História caminham juntas. Durante muito tempo, a história era contada apenas pelas fontes oficiais, aquela “história dos vencedores”. Isso começou a mudar no início do século XX, com a Escola dos Annales.
A Escola dos Annales é uma corrente historiográfica francesa que surgiu em 1929, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre, com a ideia de renovar o estudo da história. Em vez de olhar só para documentos oficiais, eles propuseram uma história mais ampla, interdisciplinar, que considera diferentes aspectos da vida humana e valoriza várias fontes, buscando entender os processos de longa duração e até as mentalidades da época.
Foi a partir daí que outras fontes passaram a ganhar importância, como os documentos não oficiais, a história oral e também a fotografia. Na exposição que apresentei na Semana de História, mostrei justamente isso: como São José do Rio Pardo - SP, minha cidade natal e onde vivo até hoje, conseguiu preservar muitos de seus lugares históricos. Esses espaços, além de fazerem parte da memória da cidade, também são fontes históricas que merecem ser preservadas.
Motoristas na Praça
Ponto de taxi ao lado da Praça da Matriz nos anos 40, em um período que o automóvel era escasso e poucas pessoas tinham acesso, esses eram os motoristas que transportavam quase toda população para todos os cantos da região, inclusive nas zonas rurais.
O mesmo local hoje se manteve quase intacto, agora as ruas são de paralelepípedos cobrindo as ruas de terra de antes, o ponto de Taxi já não faz mais parte desse espaço da praça. As arvores ainda existem no local, maiores e que presenciou muita história.
Biblioteca Monteiro Lobato
O antigo prédio da Cadeia e Fórum , atrás da Matriz que já foi o conhecido "Prédio Azul", abrigou a Justiça do Trabalho"( Hoje Biblioteca Municipal),tendo sofrido inúmeras reformas não alterando sua estrutura para construí-lo a Municipalidade adquiriu o terreno vizinho à Casa da Câmara e Cadeia, em 1901, oferecendo ao estado.
O povo que sempre aceitou a cadeia naquele local, em 1944 começou a pedir sua mudança da praça central da cidade.
Em setembro de 1944, um engenheiro do Estado veio a São José, a pedido do prefeito para verificar um terreno que deveria ser doado pela Prefeitura ao Estado para a construção da nova cadeia pública. Ficava nos "barrancos da estação" na esquina da Praça Tiradentes com a Coronel Marçal. A ideia não vingou e ficou esquecida.
Tempos depois, um terreno afastado no centro da cidade,o primeiro de esquina na Rua Júlio de Mesquita em frente aos trilhos da Mogiana foi o ideal para a construção da nova cadeia.
Fonte: Do livro No Ventre da Terra Mãe - Rodolpho Del Guerra
Santa Casa de Misericórdia
A criação da Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente.
Movidos pelo entusiasmo do Major João Modesto de Castro, muitos rio pardense se reuniram, em sua casa, no domingo, 24 de Abril de 1904, para a primeira reunião ,cujo objetivo era a construção de um Hospital de Caridade. João Modesto de Castro foi o idealizador que ficou incumbido de organizar e receber donativos.
O Coronel Honório Luiz Dias doou terreno, longe do barulho da cidade, a uma quadra acima do velho cemitério, que já estava de mudança para os elevados ermos no norte da cidade no caminho da Tubaca.
A escritura de doação foi lavrado em 2 de Agosto de 1907 depois da entidade ser denominada Misericórdia de São José do Rio Pardo a planta do prédio foi confeccionada pelo Dr Horácio Rodrigues oferecida por intermédio do Senhor Tarquinio Cobra Olyntho. Muitos leilões e festas foram realizadas no jardim da Praça 15 de novembro, e João Modesto foi avante apesar da má vontade de muitos ,conseguindo pequenas e altas somas que era publicada no jornal o Rio Pardo e todas depositadas na agência bancária dos irmãos Angerami.
Em 1906, João Modesto de Castro e Tarquinio Cobra Olyntho assumiram a festa de Nossa Senhora Aparecida que rendeu 8 contos de réis!
Na festa do dia 21 de outubro de 1906 às 15:30, antes da procissão o povo e duas bandas de música estavam diante do terreno, assistindo a colocação da pedra fundamental do futuro hospital.
O custo da construção, em Maio de 1912, era de 43 contos de réis e a pintura interna do prédio começou em abril e terminou em Julho de 1911. Os alicerces dos muros que circundavam o edifício foram feitos com as pedras do velho cemitério. No dia da inauguração da Santa Casa de Misericórdia, dia 10 de junho de 1913 o Bispo Dom Alberto José Gonçalves depois de vender todas as instalações, rezou uma missa na capela consagrada ao Coração de Jesus, diante de uma bela imagem do Santo de madeira com 80 cm de altura. Dom Alberto prometeu enviar as irmãs de caridade para dirigir o hospital e elas chegaram em junho as irmãs apóstolas do Sagrado Coração de Jesus ficaram até 1919 quando tiveram de abandonar a santa casa, removidas pelo bispo Dom Alberto em 1928, com Hospital Ainda em construção, o provedor Doutor Luiz Gonçalves Júnior fez contato com o padre Perego superior dos Olivetanos no Brasil e pediu sua intercessão para que as irmãs de caridade viessem para o novo Hospital Rio pardense. No decorrer da história da nossa Santa Casa de Misericórdia, muitas pessoas participaram do seu crescimento. e hoje podemos dizer que a Santa Casa de Misericórdia Hospital São Vicente é de suma importância na vida do município de todas as cidades da região .
Fonte: Livro No Ventre da Terra Mãe - Rodolpho Del Guerra.
Mercado Municipal
A necessidade de um mercado público em Rio Pardo era um tema recorrente desde o final do Império. Em 1899, o vereador Dr. José Rodolfo Nunes já defendia na Câmara a criação de uma praça exclusiva para os produtores e ambulantes, o que resultou na Lei nº 13. A localização, no entanto, sempre foi um ponto de discordância. Por anos, a Praça do Rosário (futura Barão do Rio Branco) foi vista como ideal, mas projetos não saíram do papel devido a dificuldades financeiras.
O problema se agravou em 1918, quando ambulantes e mascates invadiram a Praça Dr. Cândido Rodrigues, perturbando os arredores da Igreja Matriz e da Prefeitura com sua gritaria. Esse cenário de caos era constantemente denunciado pelo jornal Resenha, que pressionava a municipalidade por uma solução (DEL GUERRA, 2001).
Finalmente, em 1924, a construção foi retomada pelo Prefeito José Pereira Martins de Andrade. A escolha pela Praça Barão do Rio Branco, entretanto, foi polêmica. Parte da população criticava a perturbação, o mau cheiro e a alteração na estética da principal via de acesso ao sul da área central. A ironia era perceptível: um local que abrigara a igreja do Rosário (demolida em 1908 para não atrapalhar a escola) agora receberia justamente o tipo de atividade considerada incômoda.
Apesar das controvérsias, o Mercado Municipal foi inaugurado com grande festa em 10 de janeiro de 1926, administrado por Francisco Mello. O mercado original, com seu característico terraço, tornou-se um ponto de comércio direto dos produtores rurais, sem intermediários, abastecendo a cidade com os frutos da terra.
Cine Theatro Colombo
O Cine Theatro Colombo, um marco eclético na paisagem da cidade, carrega em seu terreno uma longa tradição cultural. Sua história remonta ao Theatro São José, o popular "Teatrinho" que, já na década de 1910, exibia filmes com um cinematógrafo antes de ser demolido. No mesmo local, ergueu-se o imponente Colombo, inaugurado em janeiro de 1936 pela Sociedade Italiana sob a responsabilidade de Adolpho Bacci e João Bergamasco.
Sua fachada é um testemunho da época, com sua riqueza de detalhes: colunas jônicas duplas, marquise balaustrada e um frontão triangular coroado por um vaso em forma de pinha. Cartelas exibem o ano de 1935 e a inscrição "XIII", uma referência explícita aos treze anos de Benito Mussolini no poder. Ao longo dos anos, o edifício passou por significativas transformações físicas e de identidade. Em 1979, sua entrada foi deslocada para o centro da fachada e, no ano seguinte, foi rebatizado como Cine Itália. Uma reforma em 1983 devolveu-lhe o nome original.
O século XXI trouxe mudanças ainda mais profundas. Em 2002, uma grande reforma acrescentou ao imóvel o Centro da Memória Rio-Pardense em seu andar superior. E, a partir de 2009, o espaço passou a ser administrado pela empresa Cine A - Cine Art Café, que garantiu a exibição diária de filmes, mantendo viva a vocação cultural que define esse patrimônio desde os tempos do "Teatrinho".
Estação Ferroviária
A estação foi inaugurada junto com a ferrovia em 1887, pela então Cia. do Ramal Ferroviário do Rio Pardo. Após a compra pela Mogiana em 1888, São José do Rio Pardo recebeu seu primeiro prédio próprio em 31 de julho de 1889.
Em março de 1927, a estação ganhou uma nova sede, que permanece até hoje e guarda semelhanças arquitetônicas com a estação de São João da Boa Vista, localizada no ramal de Caldas.
A estação permaneceu ativa até 1977, quando foi desativada para trens de passageiros e cargas devido ao desabamento de uma ponte entre esta e a estação seguinte.
Em 1985, o transporte de passageiros foi brevemente reativado entre Casa Branca e São José do Rio Pardo, mas o baixo movimento resultou em nova interrupção.
No início da década de 1990, os trilhos foram removidos e o ramal, extinto, dando lugar a uma larga avenida. Após sua revitalização em 2024, está preparada para acompanhar novos capítulos.
Fonte: Estações Ferroviárias
Paróquia São Roque
Segundo Del Guerra (2002), a Igreja de São Roque foi uma das obras de maior destaque da construção civil rio-pardense na década de 1930. No início desse período, João Bergamasco foi contratado para projetar e edificar o novo templo no alto do Bonsucesso, substituindo uma capela anterior destruída por um vendaval. A região, então pouco habitada e distante do centro, já sinalizava a futura expansão urbana. A igreja, de majestosas proporções, tornou-se um marco significativo nessa paisagem em transformação, conforme registra uma fotografia da época.
Nas fotos comparativas vemos a parte de trás da Paróquia, tirada na Rua dos Bandeirantes.


















